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Audiências Públicas, pedidos de reuniões e protestos tentam mostrar para toda a sociedade mineira, que o projeto que pretende construir o Rodoanel é um grande equívoco ambiental já que a via ará por cima de rios, córregos, nascentes e aquíferos que fornecem água para toda a Região Metropolitana de Belo Horizonte - RMBH.
Segundo os ambientalistas, o acordo entre o Governo do Estado e a mineradora Vale, que prevê o pagamento de 37 bilhões de reais que deveriam indenizar as vítimas e reparar o meio ambiente destruído, na verdade só beneficia a própria mineradora, culpada pelos dois maiores crimes socioambientais que impactaram gravemente as cidades de Mariana e Brumadinho.
O Rodoanel, chamado de Rodominério, quer ar por cima de moradias e equipamentos públicos cortando dez municípios. Betim, Brumadinho, Contagem, Ibirité, Nova Lima, Pedro Leopoldo, Ribeirão das Neves, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano seriam afetados. A população dessas cidades ameaçadas estão se mobilizando para impedir a construção da via que terá 100,6 quilômetros, com duas faixas por sentido e entroncamento com três rodovias: BR-381, BR-040 e BR-262.
Manifestações e audiências

Um protesto realizado na porta da Assembleia Legislativa de Minas Gerais - ALMG, pedia uma reunião com o presidente da ALMG, Agostinho Silveira, para tentar impedir o acórdão com o Governo do Estado e a construção do Rodoanel. Eles exigem que valor seja aplicado no amparo às famílias das vítimas atingidas pelas barragens em todo Estado de Minas.
A deputada Estadual Beatriz Cerqueira requereu e realizou uma audiência pública. A parlamentar reforçou que “esse acordo realizado sem a participação dos atingidos, envergonha o povo mineiro, violenta a memória de cada vítima dos desastres das barragens e desrespeita os familiares”.
Joceli Andrioli, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), ressaltou que o projeto do Rodoanel só interessa à mineradora Vale e ao governo Zema.
“O acordo de 37 bilhões foi um escândalo porque não houve nenhuma participação dos atingidos pelas barragens. Haviam duas ações judiciais, uma de danos morais coletivos aos atingidos, no valor de R$ 28 bilhões, e outra de indenização ao Estado, de R$ 26 bilhões. O governo fez um acordo abrindo mão de R$ 20 bilhões. Agora, se a ALMG aprovar o plano do governador Zema, os deputados vão legitimar a distribuição dos recursos e as famílias atingidas ficarão no prejuízo. Os deputados vão destinar os recursos às cidades e vão usar nas campanhas de reeleição”, explicou.
Ainda segundo Andrioli, o Rodoanel vai criar uma nova rota do minério, o acordo feito pelo governo Zema não levou em consideração que mesmo após os crimes da Vale, a empresa aumentou o faturamento, conseguindo valorizar ações na Bolsa de Valores, fazendo grandes investimentos em propagandas na grande mídia.
“Deputados estão pressionando os governos municipais para aprovarem a agem do Rodoanel. Argumentam que os prefeitos terão recursos para aplicar em hospitais das cidades e se não concordarem com o projeto, estarão recusando recursos para a saúde, chantagens", explicou.
Ambientalista de Contagem estão mobilizados

A professora de Contagem e integrante do movimento SOS Vargem Flores, Adriana Souza, participou da audiência pública e denunciou que o Rodoanel é um projeto ecocida, hidrocida e eleitoreiro. O coletivo exige que os valores destinados à obra sejam utilizados para a promoção da vida e garantia dos direitos sociais, como o direito à moradia.
“O Rodoanel proposto ará em cima de escolas, moradias, comunidades quilombolas, sítios arqueológicos, áreas de preservação ambiental e nascentes, gerando devastação, morte e o risco de crise hídrica em toda RMBH. As áreas de mineração serão poupadas e a Vale, mais uma vez beneficiada. Em Contagem, o traçado prevê ar por cima de áreas verdes, rios, córregos e na Área de Proteção Ambiental - APA Vargem das Flores, bem próximo da represa que abastece Contagem, BH e outras cidades ”, afirmou.
Governo do Estado
Em outra audiência pública realizada pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o secretário de Estado de Infraestrutura e Mobilidade, Fernando Marcato, explicou que o modelo de parceria público-privada escolhido pelo Estado para viabilizar o Rodoanel, dispensa a licença ambiental prévia à licitação. O secretário justificou dizendo que os recursos para as compensações já estão reservados para garantir o licenciamento.
“Existe um esforço para reduzir seus efeitos na Vargem das Flores, na Serra da Calçada e no Parque do Rola Moça. Temos estudos de implantação de túneis e viadutos para mitigar impactos com obras de drenagem, barreiras acústicas, agem de fauna e criação de corredores ecológicos”, disse.
Municípios impactados

Mas o diretor de trânsito e transportes públicos da Prefeitura de Nova Lima, Júlio César Grillo, disse que existem problemas que precisam ser solucionados antes da licitação. “Os dois túneis que vão atravessar as Serras do Rola Moça e da Calçada, poderão extinguir pelo menos 40 nascentes”.
O assessor de Política Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente de Belo Horizonte, Eduardo Tavares, lembrou que a Capital depende de mananciais como a Bacia do Paraopeba, que serão impactados pelo projeto do Rodoanel”.
Já a secretária de Meio Ambiente de Contagem, Maria Thereza Camisão, ressaltou que a Capital vê a obra como possibilidade de articulação viária. “Contagem considera primordial a preservação de Vargem das Flores. Por isso vemos esse projeto com grande cautela".
Especialistas afirmam que os cerca de 4 bilhões de reais destinados às obras do Rodoanel, que também virão do acordo de 37 bilhões entre a Vale e o governo Zema, não serão suficientes para concluir a obra, que tem previsão para iniciar em 2023.
Segundo Joceli Andrioli, “Zema pretende se reeleger com o apoio dos deputados beneficiados com os recursos e só depois de reeleito, vai enfrentar o desgaste gerado pelas desapropriações necessárias para iniciar as obras. Por isso reafirmamos que se trata de uma obra eleitoreira”, finalizou.